Milionário morre sozinho em casa

Era dono de dez imóveis localizados em Nevogilde, a zona mais cara da cidade do Porto. A fortuna contrastava com a vida que José Fernando Matos dos Santos, de 83 anos, preferia levar. Vivia numa casa sem condições, juntava o dinheiro das rendas, não usufruía de qualquer luxo.

José de Matos, engenheiro, foi ontem encontrado morto. Terá falecido há mais de uma semana, mas o seu desaparecimento só foi notado quando uma das inquilinas tentou pagar a renda.

O corpo foi encontrado por volta das 09h40, após a PSP ter arrombado a porta da casa. Estava despido da cintura para baixo e rodeado de lixo. Foi transportado para o Instituto de Medicina Legal do Porto, onde ficará à espera de ser reclamado. A vítima tinha alguns primos afastados.

"Ele preferia viver na miséria a gastar o dinheiro das rendas. A casa onde vivia não tinha condições. O sr. engenheiro até dormia com um saco na cabeça, porque quando chovia pingava no quarto e ele ficava todo molhado", contou ao CM Maria, a inquilina que ontem chamou a polícia.

O idoso milionário já não era visto pelo menos desde o dia 30, altura em que Maria se dirigiu à casa daquele para tentar pagar a renda. Bateu à porta, ninguém atendeu. Os dias passaram e, ontem de manhã, fez nova tentativa. Como ninguém respondeu decidiu alertar a PSP.

"Tentei novamente pagar a renda, mas como ninguém me atendeu decidi alertar as autoridades. Encontraram-no já morto", contou a vizinha.

Bombeiros e polícia ficaram impressionados com o estado da casa onde o idoso vivia. Além de não possuir condições estava repleta de lixo em várias divisões. A vegetação rodeava toda a moradia. 

RENDAS NA ZONA PODEM CHEGAR A TRÊS MIL EUROS

As moradias que pertenciam a José situam-se todas no largo de Nevogilde, na zona da Foz. É a área mais cara da cidade e as rendas podem chegar ao 3 mil euros por mês, dependendo da tipologia da habitação.

Actualmente, o idoso tinha as moradias todas habitadas, pelo que mensalmente recebia uma elevada quantia de dinheiro. Alguns dos alugueres não estavam, no entanto, actualizados, pois os inquilinos moravam há bastantes anos nas moradias.

Milionário, José não gastava dinheiro. A casa onde vivia estava em completa degradação e os vizinhos nunca o viam comprar bens ou usufruir de luxos. "Era um homem avarento, tinha muito dinheiro, mas nunca o tentou gastar", disse um morador. 

IDOSO RECUSOU SEMPRE AJUDA DOS VIZINHOS

A situação de miséria e solidão em que a vítima vivia chamou a atenção dos vários vizinhos. Preocupados com a degradação em que o idoso vivia, vários tentaram oferecer-lhe ajuda. José recusou sempre e garantiu que conseguia sobreviver sozinho.

O idoso apenas tinha alguns primos afastados, mas nunca recebia visitas. O seu corpo ficará agora no Instituto de Medicina Legal do Porto à espera de ser reclamado. Para os vizinhos, a sua morte solitária não causa surpresa, e nem o estado da casa quando o corpo foi encontrado.

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