Os pormenores da fuga dramática de Chen Guangcheng estão a correr mundo e
quanto mais se sabe mais inacreditável parece. Desde saltar de um muro
com dois metros de altura, passando por se esconder numa pocilga para
fugir aos captores, a história de Chen tem todos os ingredientes de um
sucesso de bilheteira, não fosse ser verdade.
Chen, que depois de
fugir da prisão domiciliária onde se encontrava desde 2010 se refugiou
na embaixada dos EUA na capital chinesa, despoletando uma crise
diplomática entre Washington e Pequim, tem, até agora, mantido secretos
os pormenores da fuga para proteger quem o ajudou a escapar.
Apesar
disso, amigos, familiares e activistas que, de alguma forma, o ajudaram
a chegar à embaixada norte-americana, foram já detidos e interrogados
pelas autoridades chinesas.
Neste momento internado num hospital
de Pequim, de onde está impedido de sair, Chen aguarda autorização se
mudar para os EUA, na companhia da sua mulher e filhos. O activista dos
direitos humanos que foi preso em 2006, por denunciar os abortos
forçados e a política do filho único do governo chinês, decidiu, agora,
públicos os pormenores de uma fuga que parece retirada da imaginação de
um realizador de filmes de acção.
A fuga
Chen
contou à AFP que no dia 20 de Abril, depois de quatro anos na prisão
estatal e dois em domiciliária, decidiu que estava na altura de fugir.
À
volta da pequena casa onde vivia tinha sido construído um muro de dois
metros, para complementar a apertada vigilância. Saltá-lo foi o primeiro
passo e, logo ai, fracturou um pé em três sítios, o que não o impediu
de continuar a fuga.
Conhecendo bem a sua aldeia, arrastou-se até à
pocilga de um vizinho e ai permaneceu «durante horas», explica Chen que
esses foram os momentos em que esteve «mais preocupado», pois sabia que
se fosse encontrado por algum dos 60 guardas encarregues de o vigiar
«seria espancado até à morte».
Nessa noite, arrastou-se lenta e
silenciosamente através de campos que conhecia bem, atravessou um rio e
21 quilómetros depois bateu à porta da casa de um amigo que não queria
acreditar quando o viu.
«O cego escapou»
«O
cego escapou» foi a senha que rapidamente passou entre amigos e
activistas dos direitos humanos que se organizaram para levar Chen para
outra província da China, onde já estaria mais seguro, e daí para
Pequim, aonde chegaria seis dias depois de escapar.
Seria apenas
nessa altura que as autoridades chinesas se aperceberam que Chen tinha
fugido e estava na embaixada dos EUA. Começou então uma crise
diplomática, com Pequim a acusar Washington de ter ajudado o activista a
fugir, chegando à embaixada por 'meios anormais'.
Sabe-se agora
que não houve interferência norte-americana na fuga do activista, apenas
a sua motivação para ser livre conjugada com a ajuda de amigos e
familiares. Ainda assim,não terá sido fácil, como Chen disse à AFP, «foi
perigoso, muito perigoso».
Activista cego revela como escapou de casa vigiada por 60 guardas - SOL